Gravidez na Adolescência

Domingo, 26 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção à Gravidez na Adolescência. A data lembra a necessidade de informar e orientar nossos jovens sobre o assunto. Leia o texto “A conversa sobre gravidez na adolescência com seu filho”, do Professor e Sexólogo Marcos Ribeiro.



Este texto é um resumo adaptado do capítulo 8 do livro “Conversando com seu filho adolescente sobre sexo” (Editora Planeta), de Marcos Ribeiro, a ser lançado em abril de 2011.


O autor cedeu com exclusividade ao Blog do Alexandre Ferreira, pela importância do Dia Mundial de Prevenção à Gravidez na Adolescência, instituído pela Bayer Schering Pharma.


A conversa sobre gravidez na adolescência com seu filho:


- Gravidez na Adolescência

A palavra engravidar tem sua origem no latim gravis que podemos traduzir como “importante, sério, poderoso”. Portanto, o significado de uma gravidez vai além de um filho na barriga, mas a responsabilidade do que isso significa. E na adolescência, na maioria das vezes, garotos e garotas não tem maturidade para essa vivência.

Este é um período que os jovens estão voltados para a atividade escolar, se preparando para o mercado de trabalho e, com isso, numa total dependência econômica da família. Sendo assim, os pais esperam que terminem os estudos e passem a ter um trabalho, salário para, depois, vir os filhos. Mas nem sempre a vida segue este roteiro.
E essa realidade que acontece em milhares de famílias pelo país, nem sempre é por livre escolha, mas por descuido ou mesmo pela característica do adolescente, como já vimos aqui no livro, que traz o que chamamos tecnicamente de pensamento mágico, quer dizer, em diferentes situações acha sempre “isso não vai acontecer comigo!”. E isso se estende a vida sexual quando os jovens ainda não têm consciência da necessidade da prevenção.
Aí quando menos se espera, vem a notícia de que seu filho vai se tornar pai ou mãe, para o desespero da maioria dos pais desses jovens. Ainda é cedo para a alegria de ser avô ou avó, porque o momento é de susto e muitas interrogações. O coração parece uma bateria de escola de samba.
Os filhos nem bem saíram do colo e já vão dar colo, questionam os pais, preocupados. Só que nesse momento, pai e mãe, não cabe a bronca, o desespero, o jogo de culpa, a violência (que inclui bater), o casamento forçado ou mesmo colocar pra fora de casa. Nada disso resolve a situação e só traz transtornos para o jovem casal e, conseqüentemente, para o bebê.
É comum muitas garotas engravidarem e não contarem para seus pais, com medo que eles tenham algumas das reações que acabamos de falar. Com isso, sofrem sozinhas (muitas vezes sem a presença do garoto, pai da criança), adiam a consulta médica tão necessária para começar a fazer o pré-natal ou recorrem ao aborto, nas condições mais precárias e arriscadas que podemos pensar.
A gravidez na adolescência reforça a questão de gênero, onde mais uma vez o peso cai sobre os ombros da mulher. Por ser a garota que engravida, ela passa a ser a parte mais atingida fisicamente e frágil psicologicamente. Socialmente a culpa acaba sendo da adolescente, como se o filho não fosse feito pelos dois.
Enquanto tivermos pais que falam “prenda sua cabras que o meu bode está solto”, esquecendo que os “bodes” soltos, sem prevenção e responsabilidade, podem engravidar uma garota, não teremos uma trégua no índice de gravidez na adolescência do nosso país e também não vamos cobrar do rapaz sua responsabilidade, já que é co-responsável quando a mesma acontece.
A pesquisa, Juventudes e Sexualidade, da UNESCO, trás um resultado preocupante: uma em cada dez estudantes engravida antes dos 15 anos de idade. E quando a gravidez bate à porta a maioria das adolescentes trocam seus sonhos por uma responsabilidade que é pesada demais para a sua idade.
Para você ter uma idéia, enquanto diminui o índice de gravidez entre mulheres adultas, entre as adolescentes essa taxa aumenta.

O que é importante para você, pai e mãe, pensarem:

As jovens estão tendo filhos cada vez mais cedo e num espaço de tempo muito pequeno. Com isso, é comum uma segunda ou terceira gravidez, reincidindo ainda na adolescência.
Acreditar que dar um livro sobre sexo ou achar que ouvir a minha entrevista no programa do Alexandre Ferreira é o ponto final da sua responsabilidade na educação sexual dos filhos, é puro engano! Muito pelo contrário, é o início da conversa. O livro e o programa são ótimos instrumentos para facilitar esse bate-papo entre você e seu filho, mas eles não substituem a relação de vocês e a troca de opinião, o que cada um pensa. Isso é o dia-a-dia dentro de casa que faz.

Outra coisa: caso se sinta à vontade e sem expor sua intimidade, conte como acontecia na época em que era jovem e sobre suas experiências. Os filhos vão gostar de saber que pai e mãe também passaram pelas interrogações da adolescência e que também tiveram dificuldade diante da sexualidade. Isso pode aumentar a aproximação entre vocês, fortalecendo o vínculo de confiança.
Nessa conversa fale que eles podem engravidar na primeira transa, apesar de acharem o contrário e, por isso, não se prevenirem. Essa prevenção significa usar a camisinha e tomar uma pílula anticoncepcional, fazendo, com isso, a dupla proteção:
- Os garotos têm medo de não saber usar e pagarem mico na frente da garota, se atrapalhando todo ao colocá-la; Ou, de broxar na hora “h”.
- As garotas ficam com medo de insistir que o garoto use.

Conclusão: os dois partem para uma transa sem proteção, com toda chance que a gravidez ocorra.
Sabe uma coisa que vocês podem fazer? Peguem uma banana ou pepino e para ilustrar a conversa e, com uma camisinha, mostre como se usa utilizando a fruta ou o legume. Pode ser divertido, sem deixar de ser sério e importante para o aprendizado deles. Aproveite e fale também sobre outros métodos anticoncepcionais.
A informação, aliada a conversa sem tabus dentro de casa entre vocês e seus filhos, é o melhor caminho para que eles tenham uma sexualidade consciente e responsável.

- Motivos que levam a gravidez na adolescência

Esta não é uma questão tão simples e muito menos a resposta pode ser objetiva. Mas antes de buscarmos as respostas, devemos refletir que se hoje a gravidez na adolescência é uma questão importante de ser discutida e que naturalmente preocupam pai e mãe, ao longo da história, na época das nossas avós ou bisavós, as garotas engravidavam ainda muito jovem, com 14, 15 anos. O que diferencia é que naquela época a gravidez ocorria dentro do casamento e, na maioria das vezes, planejada e sem uma perspectiva para mulher que não fosse ser mãe e dona de casa.
Cada sociedade tem ao longo do tempo os seus padrões de comportamento, que podem ser mutáveis, incluindo a concepção do que seja “normal” e “anormal”. E atualmente já se espera outro papel para a mulher como estudar, ter uma profissão e ser independente financeiramente. E nesse sentido pai e mãe se esforçam, para que os filhos tenham o melhor. A gravidez chega, então, como um sinal vermelho para esses planos.
A aceitação da gravidez passa por um processo de elaboração, já que é complicado a aceitação de que a filha, mais do que o filho, tem uma vida sexual e não é mais a criança que acreditava ser.
Em seguida vêm os sentimentos de culpa e cobrança:
- “Em que falhei?”
- “Conversei tanto com ela!”
- “A culpa é da mãe, sempre acobertando!”
- “E o pai, onde andava?”
A culpa vem atrelada a um corte nas aspirações. A compreensão e o afeto são substituídos pela perda das perspectivas: “Se eu tivesse a chance que você tem hoje, não teria me casado e engravidado tão cedo. Teria estudado, me formado e aproveitado mais a vida!”.
Esse discurso conservador e experiência, não contribuem em nada. O que vai ajudar é encarar a situação, a conscientização da responsabilidade dos dois e a orientação para que outra gravidez não ocorra, nessa fase, sem planejamento.
E o garoto nessa história?
Se a filha é cobrada, do garoto é incentivada a potência. Há um claro incentivo por parte de todos, principalmente do pai. E a gravidez vem coroar a masculinidade esperada do filho. Não se fala de responsabilidade para o garoto, do mesmo jeito que esperam da garota.
Num primeiro momento o garoto nega: “Acho que não é meu, ela dava bola pra todo mundo!”.
Em seguida – e vocês devem ter cuidado em não reproduzirem esse discurso – os pais colocam o filho como um santo, que caiu na conversa daquela sedutora. Esse comportamento só ajuda a reforçar a falta de responsabilidade do filho.
Após a negação, vem a acusação: “mas você disse que tomava pílula” ou “porque não se cuidou?”, numa dificuldade de encarar a realidade, como se ela fosse a única responsável pelo ato sexual.
Os pais têm um papel muito importante nessa questão: muitas vezes não educam seus filhos homens a responsabilidade sexual. E com isso crescem seguros de que a prevenção de uma gravidez não desejada ou uma Doença Sexualmente Transmissível cabe a mulher. Essa atitude só dificulta o seu crescimento e atrasa suas responsabilidades, o que incluiu assumir a conseqüência dos próprios atos.
Engravidar na adolescência traz à tona vários sentimentos que podem ser mais danosos – inclusive para o bebê – se a gestante não tiver os pais por perto para elaborar todas essas questões. Por isso, vocês exercem um papel fundamental. Soma a isso os sentimentos de insegurança, abandono, medo da reação de pai e mãe e também do namorado.

Mais vale a pena um lembrete: Esta realidade não pode ser vista nos cem por cento dos casos. Isso porque, nem sempre a gravidez na adolescência é indesejada. Muitos jovens desejam serem pais e planejam o filho e se frustram quando constata que a gravidez não ocorreu. Mesmo raro, é importante ressaltar este fato. E esses filhos vêm de relações estáveis e em situações de menor vulnerabilidade.
Portanto, devemos ter cuidado com o pré-julgamento, quando conversamos com os jovens. O que pode interferir na qualidade da relação em casa, na escola ou em outros espaços de convivência juvenil.

- Dia Mundial de Prevenção à Gravidez na Adolescência:

Devido a importância do tema, a Bayer Schering Pharma, instituiu o Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência, todo dia 26 de setembro. E lá se vão quatro anos, que essa data tornou-se um marco para essa discussão.
O Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência é uma campanha mundial destinada a melhorar a educação sexual, promover a conscientização sobre os métodos anticoncepcionais e reduzir índices de gravidez indesejada ou não planejada em todo o mundo.
Todo ano a campanha tem um foco diferente, mas sempre com o tema “Sua Vida”.

Cronograma:
Campanha de 2007: Viva a sua vida antes de iniciar outra;
Campanha de 2008: Sua Vida, Sua Decisão;
Campanha de 2009: Sua vida, Sua Voz;
Campanha de 2010: Sua Vida, Sua Responsabilidade.

Todas as campanhas têm como objetivos educar os adolescentes sobre o sexo seguro e e as opções de contracepção com o objetivo de conscientizá-los sobre as conseqüências de uma gravidez não planejada e os riscos das Doenças Sexualmente Transmissíveis, incluindo a AIDS.

- Na escola, como você professor pode trabalhar com esse tema:


Na aula de português o professor pode trabalhar textos literários que falem de amor ou da primeira vez. Propor uma redação que fale sobre a gravidez na adolescência, incluindo, inclusive, do garoto que se torna pai na adolescência.

Ao tratar questões populacionais, na aula de geografia, o professor pode aproveitar e trabalhar o planejamento familiar.

É interessante trabalhar na aula de história, como essa questão se dá em diferentes culturas e, aproveitando, os papéis de gênero relacionados a gravidez.

Associando as duas disciplinas e acrescentando a de matemática – ou estatística – como se dá a gravidez na adolescência em diferentes estados brasileiros, qual o estado em que esse número é mais relevante e se tem algum fato que mobilize nesse sentido.

Reprodução e métodos anticoncepcionais podem ser trabalhados na aula de ciências ou biologia.

Corpo, as questões de gênero, cuidado e prevenção, podem ser trabalhados na aula de educação física.

Os professores de música e artes plásticas podem desenvolver uma campanha na escola sobre gravidez na adolescência. Podem, também, abrir um concurso de cartazes, charges e música.


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Marcos Ribeiro, professor e sexólogo. Autor de livros sobre sexualidade.
www.marcosribeiro.com.br
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About Alexandre Ferreira

Blog do comunicador Alexandre Ferreira - Jornalista, Radialista e Professor Universitário.

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